Se você já ouviu falar de "imunidade parlamentar" e ficou com dúvidas, está no lugar certo. Essa proteção constitucional costuma aparecer nos noticiários quando algum deputado ou senador é investigado, mas poucos sabem exatamente o que ela cobre e onde termina.
A Constituição de 1988 estabelece que parlamentares têm dois tipos de imunidade: a material e a formal. A imunidade material protege por dois anos a opinião, o voto e a palavra do parlamentar, evitando processos por calúnia ou difamação relacionados ao exercício do mandato. Já a imunidade formal, também chamada de foro privilegiado, impede que eles sejam presos ou processados, exceto em casos de crime inafiançável, como homicídio doloso, e sempre após autorização da Casa (Câmara ou Senado).
Essas garantias foram criadas para que os eleitos possam atuar sem medo de retaliações políticas. Na prática, isso significa que, se um deputado faz uma crítica ao governo, ele não pode ser processado por isso. Mas, se ele comete um crime comum, como corrupção, a imunidade não serve como escudo absoluto.
O limite da imunidade costuma surgir nos casos de “crime inafiançável”. Se houver denúncias de corrupção, lavagem de dinheiro ou tráfico de armas, o parlamentar pode ser preso, mas só depois que a respectiva Casa autoriza a quebra do foro. Essa autorização costuma ocorrer por meio de um decreto legislativo, que precisa ser aprovado por maioria qualificada.
Além disso, a imunidade material não protege atos praticados fora do mandato. Se um senador comete agressão em um bar, ele responde como qualquer cidadão. O que gera polêmica é a percepção de que, na prática, o processo de remoção do foro pode ser muito lento, permitindo que alguns políticos permaneçam impunes por tempo suficiente para fugir ou destruir provas.
Nos últimos anos, casos de ex‑deputados que foram presos após deliberação do Congresso ganharam destaque. Esses episódios mostram que a imunidade não é um passe livre, mas que o caminho para sua retirada ainda enfrenta barreiras institucionais.
Para o cidadão, acompanhar o andamento desses processos é essencial. As sessões de comissões são públicas, e muitos veículos de imprensa transmitem as votações dos decretos legislativos. Se você quiser saber se um parlamentar tem seu foro suspenso, basta buscar o número do decreto no site da Câmara ou do Senado.
Em resumo, a imunidade parlamentar tem duas funções principais: garantir a liberdade de expressão dos representantes e proteger a independência do Poder Legislativo. No entanto, quando usada como escudo contra investigações criminais, gera desconfiança e alimenta o debate sobre a necessidade de reformas.
Se ainda restou alguma dúvida, lembre‑se: a imunidade protege a atividade política, não o comportamento pessoal. E, como eleitor, você tem o direito de cobrar transparência e, se preciso, pedir a revogação do mandato de quem abusar desse benefício.
A Procuradoria Parlamentar da Câmara dos Deputados do Brasil classificou uma investigação contra o deputado Marcel van Hattem como interferência na autonomia do Poder Legislativo, ressaltando que o parlamentar dispõe de inviolabilidade material garantida pela Constituição Federal. O caso levanta questões sobre os limites da liberdade de expressão dentro do parlamento e a ameaça da autocensura.
nov, 26 2024