Seis meses. Esse foi o tempo de permanência de Otaviano Costa na Band antes de decidir encerrar o contrato por acordo mútuo, formalizado na terça, 16 de setembro de 2025. Oficialmente, ele fica no ar até 31 de outubro, à frente do Melhor da Noite, mas pessoas próximas não descartam uma saída antecipada já no fim de setembro.
O programa Melhor da Noite, exibido às quartas, quintas e sextas, às 22h30, tentou combinar gastronomia, viagem, informação e histórias inspiradoras. Não decolou no Ibope. No início de setembro, a atração chegou a marcar perto de traço na Grande São Paulo, segundo a Kantar IBOPE Media, um termômetro que pesa na mesa de executivos e anunciantes.
Além dos números, o fator pessoal contou muito. Otaviano mora no Rio de Janeiro com a esposa, a atriz Flávia Alessandra, e precisava viajar semanalmente para São Paulo. Na prática, eram dias longe de casa, rotina quebrada e cansaço acumulado. Em entrevista recente à revista Quem, ele já havia falado da dificuldade de equilibrar família e trabalho.
Há ainda o aspecto de saúde. Em 2024, Otaviano passou por uma cirurgia no coração e, nos últimos meses, teve intercorrências que o tiraram do ar por alguns dias. O compromisso de late-night, que exige presença em estúdio e disponibilidade de agenda, não ajudava nesse contexto.
A Band tentou redesenhar o caminho. Propôs um formato semanal — um game show — para concentrar produção, segurar custos e reduzir deslocamentos. As conversas avançaram a ponto de chegar à família Saad, controladora do grupo, mas acabaram esfriando. Entre os obstáculos, estavam calendário, ajustes de grade e a dúvida se um novo projeto teria fôlego imediato para recuperar público.
Nos bastidores, também pesou a sensação de que o Melhor da Noite recebia pouca atenção no dia a dia. Fontes relataram que Otaviano se mostrou incomodado com a forma como a atração era tratada em reuniões de equipe. Nada explosivo, mas suficiente para minar a confiança no médio prazo.
Não é a primeira vez que o apresentador encerra um ciclo na Band. Ele já havia passado pela emissora em 1999, quando substituiu Luciano Huck no Programa H e comandou o Band Folia, e voltou em 2005 para o Clube do Fã. A reaproximação deste ano buscava repetir a parceria, mas esbarrou na realidade do horário e do mercado.
Com a saída, a Band se mexe para tapar o buraco da grade. Pâmela Lucciola, hoje no Melhor da Tarde, é o nome mais cotado para herdar a faixa. Internamente, a discussão passa por dois cenários: manter um programa de variedades com pegada mais popular e produção mais enxuta, ou testar um formato de competição semanal, que permita maior concentração de verbas de patrocínio e promoções.
O contexto não ajuda. Os domingos recentes ilustram a fase: em 14/9, MasterChef Confeitaria 2 marcou 1 ponto na Grande São Paulo, e o Perrengue foi o mais visto do dia, com 1,5. Em dias úteis, a briga às 22h30 é dura: novelas e realities das concorrentes seguram público, enquanto o SBT e a Record oferecem produtos consolidados no mesmo intervalo.
Para a área comercial, números modestos exigem criatividade. Um programa semanal pode concentrar audiência, gerar menos dispersão de mídia e simplificar entregas a patrocinadores. Para a produção, reduz o custo fixo e o desgaste de uma rotina diária ou tri-semanal. Foi nessa linha que a proposta a Otaviano nasceu — e é nela que a Band deve insistir.
Há também um movimento maior na emissora, que vem reequilibrando investimentos desde a saída de Faustão, em 2023. A aposta em franquias reconhecidas (como o MasterChef) e formatos de custo controlado segue no radar. A troca no late-night se encaixa nessa lógica de contenção e ajustes finos.
O futuro imediato do Melhor da Noite é de transição. Até 31/10, a tendência é manter a estrutura atual com pequenas correções de rota, enquanto a direção define o desenho da faixa. Se a saída de Otaviano for antecipada, a casa pode usar edições especiais, compilações de melhores momentos ou pilotos esticados para cobrir o período.
Para o apresentador, o plano é desacelerar e olhar para projetos autorais e negócios próprios. Ele não fecha portas na TV — o tom do comunicado foi amistoso, algo comum quando as partes preferem preservar pontes —, mas a prioridade agora é reduzir o vai e vem entre Rio e São Paulo e cuidar da agenda.
Veja a linha do tempo da relação dele com a Band:
Fica a lição do caso: late-night é território competitivo, e logística pesa tanto quanto criatividade. Com saúde em recuperação, família no Rio e a audiência patinando em São Paulo, Otaviano escolheu parar, antes que o desgaste fizesse mais barulho que o próprio programa.