nov, 6 2024
A demissão do ministro da Defesa, Yoav Gallant, pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, foi um movimento que pegou muitos de surpresa, mas era uma decisão que vinha sendo considerada já há algum tempo. Netanyahu, em um comunicado gravado, justificou a demissão citando uma 'crise de confiança' insuperável, algo que em tempos de guerra significa muito mais do que uma simples diferença de opinião. Israel se encontra num período delicado, com os conflitos em Gaza ainda acirrados e um cenário político interno bastante volátil.
Os confrontos em Gaza têm se mostrado um verdadeiro campo minado para a política de defesa de Israel. Yoav Gallant, uma figura polêmica dentro do Likud por suas frequentes discordâncias com o primeiro-ministro, criticou publicamente algumas das decisões mais ambiciosas de Netanyahu, como o viés de alcançar uma 'vitória absoluta' em Gaza. Essa expressão foi considerada por Gallant uma estratégia 'absurda', indicando que, para ele, o peso das expectativas depositadas em resultados militares poderia ser irreparável tanto em perdas humanas quanto políticas.
A situação se complica ainda mais com a questão do Corredor da Filadélfia, uma faixa de terra crucial ao longo da fronteira entre Gaza e Egito. Para Gallant, controlar essa região é ser cúmplice de uma 'vergonha moral'. Netanyahu, por outro lado, parece ver na presença militar nessa área um ponto estratégico não negociável. Essa discordância gerou tensões que foram se intensificando juntamente com outros assuntos de defesa e segurança. Assim, as divergências pessoais e políticas entre Netanyahu e Gallant tornaram-se insustentáveis à medida que as decisões de Gallant, vistas como 'contrárias ao gabinete', se tornaram de conhecimento público, o que aparentemente teria beneficiado inimigos do Estado judeu.
A demissão de Gallant, porém, não se resume apenas a uma disputa de ego e poder entre duas figuras de grande importância. Desde março de 2023, quando Gallant se opôs a uma reforma judicial pretendida por Netanyahu, a relação entre ambos já apresentava fissuras. Esse projeto de reforma visava aumentar o controle governamental sobre a escolha de juízes, algo que Gallant e parte da opinião pública viam como uma ameaça à independência do judiciário israelense. A manutenção de Gallant no cargo tinha sido provisoriamente assegurada com base em pressões populares, mas o abalo na relação, inevitavelmente, prosseguia até o recente ato de demissão.
O anúncio de que o Foreign Minister Israel Katz será o novo ministro da Defesa, enquanto Gideon Sa'ar assume a pasta de Katz, mostra uma rápida reestruturação na liderança ministerial. A pergunta que fica é se tal mudança trará estabilidade ou se aumentará ainda mais as fricções dentro do governo. Gallant, por sua vez, logo após sua demissão, reiterou em suas redes sociais seu compromisso com a segurança de Israel, sinal de que apesar de saído, ele não está derrotado e mantém seu papel como uma voz forte dentro da política de defesa.
A contínua recusa de Netanyahu em afastar-se de políticas controversas, incluindo a questão do alistamento de homens ultraortodoxos nas Forças de Defesa de Israel, das quais Gallant era um defensor, exacerba a fragmentação interna no governo. Este descompasso, juntamente aos embates de liderança, levanta preocupações sobre como isso influenciará nas ações práticas de defesa do Estado.
Portanto, a troca ministerial não é apenas uma questão de nomes, mas representa um verdadeiro realinhamento das prioridades políticas em meio a um tempo de guerra. A maneira como o governo de Netanyahu administrará essa transição poderá definir os rumos de Israel tanto no campo de batalha quanto na cena política interna e externa. Enquanto o país enfrenta um período de guerra ainda sem previsão de cessar-fogo, manter a confiança na liderança se faz essencial não só para o governo, mas também para a população que espera estabilidade e segurança nesses tempos difíceis.