Um desvio mudou o rumo da noite em Belo Horizonte. Em um duelo duro, tenso e bem jogado, o Cruzeiro venceu o São Paulo por 1 a 0 no Mineirão, na noite deste sábado, 30 de agosto, pela 22ª rodada do Brasileirão 2025. Matheus Pereira bateu falta aos 18 do segundo tempo, a bola tocou em Alan Franco e enganou o goleiro Rafael. Foi o lance que separou uma atuação sólida de uma derrota amarga para o Tricolor, que competiu, rodou bem a bola, mas pecou no último passe.
O jogo começou às 21h, com apito de Anderson Daronco (RS), auxiliado por Rafael da Silva Alves e Maurício Coelho Silva Penna, também do Rio Grande do Sul. No vídeo, Wagner Reway (SC) comandou o VAR. Clima quente no estádio, arquibancadas cheias e um roteiro de partida grande: duelo direto por posições no topo da tabela.
O primeiro tempo foi de São Paulo. O time de Hernán Crespo — desfalcado de nomes importantes — tratou a bola com cuidado. A saída com três zagueiros deu amplitude para os alas, e o meio travou o centro do campo. Cédric e Patryck abriram o campo, Pablo Maia foi a referência para girar o jogo, e Bobadilla e Rodriguinho ofereceram linhas de passe. A posse ficou majoritariamente com o Tricolor, que controlou o ritmo e empurrou o Cruzeiro para o próprio campo em vários momentos.
Faltou transformar controle em perigo. O São Paulo rondou a área, cruzou, arriscou tabelas curtas, mas parou em duas barreiras: o miolo defensivo cruzeirense, com Fabrício Bruno e Villalba muito atentos, e a falta de profundidade quando Luciano e Ferreirinha precisavam de alguém atacando o espaço. Quando as jogadas encaixaram, apareceu Cássio para cortar cruzamentos e organizar a última linha. O Cruzeiro sofreu, mas não se desorganizou.
O plano de Leonardo Jardim foi outro. Menos bola, mais verticalidade. Lucas Silva e Lucas Romero protegeram a entrada da área, Matheus Henrique ajudou a ligar o contra-ataque, e Matheus Pereira flutuou por trás de Kaio Jorge, tentando achar a brecha. Wanderson foi o escape. Nas vezes em que encaixou a transição, o Cruzeiro chegou com perigo. E encontrou um paredão: Rafael. O goleiro do São Paulo fez defesas importantes em finalizações de Matheus Pereira e em arremates que sobraram para Kaiki e, depois, para Gabigol quando ele entrou. Sem ele, o placar teria mudado antes.
Depois do intervalo, o Cruzeiro voltou com ritmo mais alto. A equipe adiantou a marcação, encurtou espaço e acelerou a tomada de decisão no terço final. O São Paulo respondeu com mais circulação de um lado ao outro, mas já não encontrou a mesma claridade para sair. A bola parada fez a diferença. Aos 18, falta frontal. Matheus Pereira cobrou buscando o canto; o desvio em Alan Franco matou qualquer reação de Rafael. O Mineirão explodiu. O gol mudou a energia do jogo, e mudou o comportamento das equipes.
Com a vantagem, o Cruzeiro se sentiu confortável para baixar um pouco as linhas e atacar os espaços deixados. Jardim acionou o banco: Kauã Prates refrescou o meio no lugar de Lucas Silva, Sinisterra entrou para dar velocidade, Eduardo ocupou o lado para segurar o flanco, e Gabigol substituiu Kaio Jorge para segurar zagueiro e brigar por faltas. Do outro lado, Crespo mexeu para buscar volume: Henrique entrou no lugar de Pablo Maia para pisar mais na área, Wendell ocupou a faixa de Patryck, Dinenno entrou no lugar de Luciano como referência central, e Tapia entrou por Ferreirinha para tentar um último gás pelo lado.
O São Paulo cresceu em cruzamentos e bolas esticadas, mas faltou capricho na última bola. Dinenno brigou por cima, Rodriguinho apareceu entre linhas tentando o passe que quebraria a defesa, e Bobadilla arriscou de média distância. O Cruzeiro, mesmo recuando, não deixou de ameaçar. Matheus Pereira seguiu lúcido, gastando o tempo com a bola, prendendo faltas e escolhendo bem as jogadas. Gabigol atraiu marcação, abriu corredor para Wanderson e Sinisterra, e a equipe mineira parecia mais perto de ampliar do que de sofrer o empate em muitos momentos finais.
O jogo foi tenso, mas bem controlado pela arbitragem. Daronco aplicou cartões quando a intensidade passou do ponto: Luciano, Patryck, Bobadilla e Rodriguinho ficaram pendurados no São Paulo; Villalba e Lucas Silva levaram amarelo pelo Cruzeiro. Muita disputa, poucas paralisações exageradas, e uma condução firme nas divididas.
Quando o apito final veio, o Cruzeiro dormiu na vice-liderança. Três pontos que valem mais do que a tabela: valem moral, confiança e a sensação de que o time sabe sofrer sem perder a identidade. Para o São Paulo, ficou a frustração por não pontuar em uma atuação que teve ideias e controle, mas pouca agressividade no último terço. Em um campeonato de margens pequenas, esse detalhe custa caro.
Os modelos eram claros. O Cruzeiro se desenhou num 4-3-3 que virava 4-2-3-1 sem a bola: Lucas Silva e Lucas Romero sustentando a base, Matheus Henrique ajudando na saída e na pressão, e Matheus Pereira livre para criar. Kaio Jorge começou centralizado, abrindo espaço para arrastos curtos, e Wanderson ofereceu profundidade pelo lado. Nas laterais, William foi mais contido, Kaiki apoiou quando o espaço apareceu, e Fabrício Bruno comandou a linha com autoridade.
O São Paulo espelhou a proposta com um 3-5-2 que tinha cara de 3-4-3 em vários momentos. Ferraresi, Alan Franco e Sabino formaram a parede central, Cédric e Patryck abriram o campo, e o meio com Pablo Maia, Bobadilla e Rodriguinho buscou o jogo entrelinhas. Luciano recuou para combinar e finalizar de frente; Ferreirinha tentou alongar as jogadas pelo lado, chamando um contra um. A execução foi boa até a proximidade da área. Faltou o passe de ruptura, a infiltração no tempo certo, a ocupação do segundo pau nos cruzamentos. Pequenos detalhes que mudam placares.
Na bola parada, vantagem mineira. O Cruzeiro trabalhou a falta do gol como manda o manual: barreira atrapalhando a visão, cobrança com força média, trajetória buscando o canto e gente atacando a segunda bola. O desvio foi acidental, mas a preparação para o lance foi fruto de treino. O São Paulo também teve seus momentos na bola parada, principalmente em escanteios, mas a defesa azul levou a melhor nas bolas altas com posicionamento e tempo de pulo.
Alguns nomes merecem holofotes. Matheus Pereira, decisivo no gol e inteligente na gestão do ritmo, foi o cérebro do Cruzeiro. Lucas Romero correu por três, cobriu lateral, fechou passe por dentro e ainda apareceu para tirar bola perigosa na entrada da área. Fabrício Bruno venceu duelos no chão e pelo alto, garantindo segurança quando o time precisou defender baixo. Wanderson entregou correria e opção de desafogo.
Pelo São Paulo, Rafael foi o destaque. Duas defesas difíceis em chutes que buscavam o canto e uma leitura rápida para fechar ângulos em transições salvaram o time de um placar maior. Alan Franco fez boa partida em coberturas e sofreu com o azar no desvio do gol. Rodriguinho tentou costurar por dentro e oferecer passes verticais; às vezes acertou, às vezes bateu no muro azul. Dinenno, quando entrou, deu presença de área e brigou por cada bola.
Faltou agressividade ao Tricolor no corredor central. Em várias posses, a equipe escolheu abrir o campo e cruzar cedo, quando poderia ter carregado por dentro para atrair o zagueiro e soltar no espaço. O Cruzeiro, por sua vez, foi cirúrgico nas transições: poucos toques, gente atacando a última linha no tempo certo e finalizações limpas. Não foi um festival de chances, mas a equipe mineira gerou ocasiões mais claras quando conseguiu acelerar.
A vitória tem peso de tabela e de vestiário. Dormir em segundo lugar na 22ª rodada diz muito sobre consistência. O Cruzeiro somou pontos contra um adversário direto e manteve a curva de desempenho estável mesmo em noite de pressão. Para quem briga lá em cima, ganhar quando não domina o jogo inteiro é sinal de maturidade. Para o São Paulo, a atuação mostra que há mecanismos, mas a execução no terço final precisa evoluir para transformar posse em gol, especialmente fora de casa.
O calendário aperta, e a gestão de elenco ficou evidente nas trocas. Jardim distribuiu minutos sem perder o controle do desenho tático. Crespo mexeu para aumentar a presença no ataque, mas o time não encontrou a sincronia ideal após as mudanças. É o tipo de ajuste que aparece no treino seguinte: aproximação entre meia e centroavante, passo dos alas mais profundo e a entrada surpresa do volante pisando na área.
Em jogos assim, os detalhes também passam pela arbitragem. Daronco foi coerente. Deixou correr quando o contato foi de jogo, parou quando a força passou do limite e aplicou cartão quando a tática da falta entrou em cena. Sem grandes polêmicas com o VAR, o ritmo fluiu e o jogo não virou novela de revisão.
Para quem gosta de recortes, alguns momentos mudaram o ar do estádio. Quando Rafael pegou a batida colocada de Matheus Pereira, a sensação era de que o Cruzeiro precisaria de algo diferente. A falta do gol trouxe esse algo. No fim, já com Dinenno brigando no alto e o São Paulo mandando gente para a área, a linha cruzeirense rebateu tudo. A última bola viajando na área e saindo pela linha de fundo resume bem a noite: controle tricolor em trechos, mas eficiência mineira no que decide.
Escalações e trocas confirmam a história da partida. O Cruzeiro começou com Cássio; William, Fabrício Bruno, Villalba e Kaiki; Lucas Silva, Lucas Romero e Matheus Henrique; Matheus Pereira, Wanderson e Kaio Jorge. Entraram Kauã Prates (Lucas Silva), Sinisterra (Matheus Henrique), Eduardo (Wanderson) e Gabigol (Kaio Jorge). No São Paulo, Rafael; Ferraresi, Alan Franco e Sabino; Cédric, Pablo Maia, Bobadilla, Rodriguinho e Patryck; Luciano e Ferreirinha. Entraram Henrique (Pablo Maia), Wendell (Patryck), Dinenno (Luciano) e Tapia (Ferreirinha). Foram advertidos com amarelo: Luciano, Patryck, Bobadilla e Rodriguinho (SP); Villalba e Lucas Silva (CRU).
Em um campeonato de margem curta, partidas equilibradas se decidem na bola parada, no detalhe do desvio, na frieza para defender a própria área nos dez minutos finais. O Cruzeiro fez essas três coisas melhor nesta noite. E saiu do Mineirão com um resultado que pesa na tabela e no vestiário.